sábado, 2 de junho de 2012

Da solidão - Cecília Meireles

Da solidão - Cecília Meireles



"Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.


No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?

Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.

Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.

Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto - como o das criaturas humanas - é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.

Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranquilos, metódicos telhados...Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.

Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente " Estou aqui! estou aqui! ". Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.

Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente. "

segunda-feira, 28 de maio de 2012

MeuBarco
Ancorado
No cais
Ancorado
Nos Braços
Do mar
Teus Braços
Prontos
Pra me receber?
Você o chão do mar...
E eu a derivar,
A nadar,
A não dar...
Você o mar que encanta,
Alivia, desordena, reordena, vai e vem

Some e aparece
Maré alta e baixa



domingo, 27 de maio de 2012

Rondó

A gente sempre vai tocar nossa história nesse rondó: de se ver, se querer, se entregar, se afastar, se desejar, sentir saudades e retornar... 
A gente sempre vai sentir a mesma cor do ter contato, do estar exato, do se perder, do sorrir e do ficar...
A gente é que não sabe ainda se vai se ver por hoje, por este mês, por esse semestre, ou simplesmente se  vai ...e mesmo assim, sempre trago comigo a certeza que tem pessoas que pertencem muito pouco a nossa vida, mas tocam intensamente à nossa alma...que nos conhecem sem conviver, nos protegem sem querer: do erro, do medo, que nos trazem a calma de volta, só por saber que já nos conhecemos e que estarão em algum lugar (perto ou longe) mas vivas e bem.
Gente que faz toda diferença porque existe e porque faz parte da nossa caminhada, nem que seja em pequenas etapas, depois de 16 anos, ou até mesmo 36 dias...
Gente que é de verdade, que sente, que só de olhar nos olhos você lê a inspiração e respira o ar dela e se alivia....